terça-feira, 22 de maio de 2018

QUE DEVE O BENFICA FAZER PERANTE A CRISE DO SPORTING?


Se era claro desde o primeiro dia do consulado de Bruno de Carvalho que estavam reunidas as condições para as coisas acabarem mal para o Sporting, ninguém, por mais imaginativo, foi capaz de antecipar a torrente de declarações demenciais e a sucessão de acontecimentos inexplicáveis. Nos últimos tempos, quando se pensa que o Sporting bateu no fundo, temos assistido, perplexos, a um novo passo face a um abismo que aparenta não ter fim.
Há um responsável imediato - Bruno de Carvalho. Contudo, os sócios do Sporting, que aceitaram ora com entusiasmo (elegendo-o por duas vezes e apoiando-o uma terceira num plebiscito delirante), ora com passividade a forma egocêntrica como o seu presidente ia gerindo os destinos do clube, têm também responsabilidades. Dir-me-ão, com razão, que Vale e Azevedo também presidiu ao Benfica. É um facto: mas foi eleito por uma margem muito curta, contestado por muitos durante o seu atribulado mandato e logo varrido nas eleições seguintes (um serviço que, nunca esquecer, devemos agradecer encarecidamente a Manuel Vilarinho).

O que está a acontecer ao Sporting, nomeadamente o risco de derrocada financeira, consequência da incerteza diretiva e dos riscos de debandada dos jogadores, coloca desafios aos restantes clubes portugueses, designadamente aos dois principais adversários.
Bem sei que o futebol se faz de rivalidades. Por isso mesmo, muitos benfiquistas têm vivido estes momentos com satisfação. Mas uma coisa é celebrar um insucesso de um adversário, outra, bem distinta, é assistir à desagregação institucional do Sporting.

O que me faz regressar ao início da rivalidade entre Benfica e Sporting. Corria o verão de 1907, e o Sporting, recém-fundado, aliciou com melhores condições materiais (uma bola nova por jogo e um campo com balneário e bancadas!) oito jogadores do, então ainda, Sport Lisboa. Enquanto os jogadores partiam, como recordam o João Tomaz e o Fernando Arrobas no seu "110 histórias à Benfica", Cosme Damião deixava uma garantia: "O Sporting tem dinheiro. Nós temos dedicação. No imediato, o dinheiro vence a dedicação. No futuro, a dedicação goleia o dinheiro".
Num mundo do futebol-negócio, é tentador para o Benfica aliciar vários dos craques do Sporting. Seria um erro. O que devolve a 'garantia' moral do fundador do Glorioso. Não só há uma diferença entre fazer ofertas exorbitantes a jogadores em final de contrato - como aconteceu com as idas de Eurico Gomes e Artur Correia do Benfica para o Sporting ou, mais recentemente, em sentido contrário, com Carrillo - e procurar aproveitar a debacle do adversário para ir buscar alguns dos seus melhores jogadores (como fez o Sporting em 1993, ao contratar Sousa e Pacheco, procurando ainda levar João Pinto, Rui Costa e Paneira); mas, também, porque, num futebol como o português, já de si nivelado por baixo, um Sporting ainda mais fragilizado desportivamente é, no médio prazo, mau para o Benfica.

Pedro Adão e Silva, in Record

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