sexta-feira, 22 de setembro de 2017

ENTREVISTA DE DOMINGOS SOARES DE OLIVEIRA


O passivo do Benfica caiu pouco mais de 17 milhões de euros na época 2016/2017, mas tem sofrido uma grande reconfiguração, que passa pela subsituição das dívidas à banca, dominantes até há pouco tempo.
Em entrevista ao Negócios, Domingos Soares Oliveira revela que as três linhas de obrigações emitidas pelo Benfica - e que estão nas mãos de investidores de retalho e não só - já superam o valor em dívida à banca. Este caiu 88 milhões de euros na época passada, para 125,5 milhões de euros, enquanto a colocação de obrigações subiu 59 milhões, para 151,5 milhões de euros.
Na prática, o Benfica está a usar parte do dinheiro conseguido com as obrigações para abater a dívida ao sistema financeiro. Quanto ao futuro, a estratégia passa pela manutenção deste nível de emissões obrigacionistas, sem aumentar o valor total emitido. Ou seja, quando uma emissão for reembolsada far-se-á outra para a substituir, mas o Benfica não vai ter mais de três emissões vivas ao mesmo tempo.
Quanto ao crédito bancário, a tendência continuará a ser de redução.
SAD do Benfica lucrou 44,5 milhões de euros na época passada, o melhor resultado de sempre. Endividamento bancário caiu e o passivo também, mas há vozes que questionam o custo desportivo da venda de jogadores.
A redução do passivo é para continuar e até acentuar-se, nos próximos anos. Domingos Soares Oliveira, administrador financeiro da Benfica SAD, defende a estratégia do clube, num momento em que, dentro de campo, há várias críticas à equipa.
Estes melhores resultados de sempre não deveriam ter trazido uma maior redução do passivo?
Estes resultados têm uma tradução em termos de activo e de passivo. O que é importante é verificar qual é a tendência destas duas linhas. O activo cresce, o que significa que, por exemplo, na rubrica de clientes temos um acréscimo de 40 milhões de euros. À medida que esse valor for sendo pago isso permite-nos fazer uma redução do passivo mais acentuada. Não existe uma redução de passivo instantânea depois das vendas que fizemos, mas à medida que forem sendo cobradas vão ter tradução numa redução de passivo mais acentuada.
Em termos estratégicos não haverá outro destino para esse dinheiro?
Em termos estratégicos o nosso objectivo é claramente continuar a ter um passivo mais baixo. Queríamos atingir um primeiro marco, que era ter um passivo financeiro inferior ao total de receitas do grupo, o que foi conseguido. O que queremos é que o crescimento das receitas que temos tido possa acentuar essa redução de passivo que temos observado até agora.
"Existe um conjunto de melhorias na nossa relação comercial com a Nos que nos permite
estar satisfeitos com a negociação que foi feita."
Consegue perceber o argumento de quem defende que o Benfica para esta época fez uma opção de privilegiar a vertente financeira em possível detrimento da vertente desportiva?
Ouço esse argumento. E sou capaz de rebater esse argumento, mas se tivesse uma componente estritamente emocional era capaz de o acompanhar. E insisto, o nosso negócio é de associativismo, é muito de clubite, muito emocional, portanto, as pessoas tendem a acompanhar o raciocínio de uma estratégia apenas e só em função dos resultados que foram obtidos num período muito curto. A tendência neste momento não é essa. Nós estamos seguros do que fizemos, a aposta clara na formação é importante. Não é exclusiva, como sempre dissemos não é possível trazer jovens jogadores que não sejam devidamente enquadrados para poderem ter sucesso. Acredito que haja quem ache que poderia ter havido mais investimento, nós acreditamos que é preciso dar oportunidades a jovens jogadores para que eles possam muito rapidamente ter sucesso, porque se não tiverem sucesso aqui vão ter sucesso fora deste mercado. E temos experiências como é o caso do João Cancelo, do Bernardo Silva, do André Gomes. Que pelo facto de não terem tido oportunidades aqui foram brilhar para outros mercados, e não é isso que queremos que aconteça. Queremos que os jovens que estamos a formar com qualidade tenham possibilidade de ter sucesso no Benfica.
O dossiê do contrato com a Nos foi aberto e foi fechado a contento das partes. Não se mexeu no prazo. O que é que melhorou?
Não posso alargar-me relativamente à negociação que foi feita com a Nos. Não foi feito um alargamento do prazo, não mexemos no contrato que temos neste momento de direitos televisivos, os valores são os que publicámos. Mas efectivamente existe um conjunto de melhorias na nossa relação comercial com a Nos que nos permite neste momento estar satisfeitos com a negociação que foi feita, e a Nos também. Neste momento queremos máxima visibilidade para a Nos, que esta volte a ser um parceiro muito significativo de negócio, queremos contribuir – como fazemos com todos os patrocinadores – para que a Nos aumente o seu volume de negócios e queremos que os benfiquistas tenham uma adesão maciça àquilo que é o produto de telecomunicações Nos. Há uma melhoria das condições comerciais que temos acordadas com a Nos.
Como está a questão do "naming" do estádio?
Continuamos a trabalhar no "naming" do estádio. Posso dizer-lhe que ainda na sexta-feira estive a apresentar uma proposta de "naming" do estádio. É uma situação que é extremamente difícil, mas que nós nunca iremos baixar o valor que entendemos que o estádio vale para conseguir fechar um contrato comercial. Estive a falar com um potencial investidor.
Não é preocupante se clubes com mais limitações financeiras possam ter um ano desportivamente mais competitivo do que o Benfica, que não tem essas limitações?
Isso dependerá um pouco daquilo que for a estratégia seguida por cada um e do entendimento que os accionistas, os adeptos, os sócios, tenham relativamente à estratégia que venha a ser seguida. Eu costumo dizer que o facto de termos ganho nestes quatro anos, quer em termos financeiros quer em termos desportivos, não resulta do acaso, não resulta de uma única pessoa, não resulta de um conjunto de jogadores ou de um treinador que seja um mágico. Resulta de uma estratégia que foi definida há cinco anos, implementada com sucesso e que nos permitiu ter esse resultado. E ainda recentemente voltámos a desenhar uma estratégia para os próximos dez anos, que indica uma série de iniciativas e de indicadores que queremos alcançar. Acho que os benfiquistas já compreenderam isso há bastante tempo, que sob a direcção do presidente Luís Filipe Vieira há etapas numa estratégia. Houve uma etapa forte de investimento em infra-estruturas, uma etapa forte de investimento em atletas, uma de investimento naquilo que é a formação e, neste momento, a tendência natural é que onde vamos investir seja cada vez mais na formação e no reforço das infra-estruturas.
Seguindo essa estratégia, é possível que haja percalços no caminho. Percalços não significa a perda de um campeonato, pode ser – como parece ser neste momento – que o facto de não termos ganho dois ou três jogos isso ponha efectivamente em causa a estratégia. Eu acredito, pelas conversas que tenho tido, que ninguém anda satisfeito com resultados que sejam menos bons, mas que o racional que efectivamente existe além do emocional em cada benfiquista leva a dizer que esta estratégia é a certa para termos cada vez mais sucesso. O futebol não é uma ciência exacta e, portanto, quem ganha hoje pode não ser quem ganha amanhã. Nós trazemos uma cultura vencedora, queremos manter essa cultura vencedora, acreditamos que a visão e a estratégia é de médio e de longo prazo. Acreditamos que outras pessoas possam ter a tendência de implementar uma estratégia de curto prazo, mas o Benfica teve uma experiência no passado de investimentos numa estratégia de curto prazo que custou muitos anos a resolver.
Administrador admite que, se tivesse uma visão apenas emocional do futebol, poderia acompanhar o argumento de que a vertente financeira foi privilegiada correndo o risco de haver um enfraquecimento desportivo.
O Benfica vem de duas derrotas consecutivas - uma para a Liga dos Campeões e outra para o campeonato - e isso tem levantado críticas à política do clube, que vendeu vários jogadores titulares da equipa do ano anterior e investiu pouco em reforços.
Questionado sobre se o Benfica privilegiou a vertente financeira em detrimento da vertente desportiva, Domingos Soares de Oliveira admite que ouve esse argumento e até que, "se eu tivesse uma componente estritamente emocional era capaz de o acompanhar". No entanto, rebate essa tese e explica a razão pela qual o clube não gastou muito em novos jogadores para a equipa, apesar de ter encaixado mais de 100 milhões de euros em vendas.
"Nós estamos seguros do que fizemos, a aposta clara na formação é importante", explica. "Acredito que haja pessoas que pensam que devia ter havido mais investimento, nós acreditamos que é preciso dar oportunidade a jovens jogadores para que eles possam muito rapidamente ter sucesso", acrescentou.
Deu o exemplo de talentos como Bernardo Silva ou João Cancelo, que saíram muito cedo do Benfica e estão a ter sucesso internacional, pretendendo o clube que esse tipo de jogadores se possa aguentar por cá mais anos. "Queremos que os jovens que estamos a formar com qualidade tenham a possibilidade de ter sucesso no Benfica", conclui.
Benfica e Nos concluem com sucesso renegociação do contrato televisivo
Administrador financeiro do Benfica diz-se muito satisfeito com os novos termos mas não divulga montantes nem outros pormenores.
O Benfica e a Nos já chegaram a acordo para a renegociação do seu contrato relativo aos direitos televisivos. Em entrevista ao Negócios, Domingos Soares de Oliveira confirma que o dossier "foi aberto e foi fechado", com sucesso.
"Não foi feito um alargamento do prazo, não mexemos no contrato que temos neste momento de direitos televisivos, os valores são os que publicámos", afirmou o administrador da SAD do Benfica. "Existe um conjunto de melhorias na nossa relação comercial com a NOS que nos permite neste momento estar satisfeitos com a negociação que foi feita, a NOS também", acrescentou.
O responsável escusou-se a revelar os pormenores, mas, não passando pela renegociação do prazo ou do valor específicamente sobre os direitos televisivos, terá havido um aumento da abrangência do contrato em termos de áreas.
O contrato entre a Nos e o Benfica tem um valor médio de 40 milhões aos ano para a SAD, começando por um valor anual mais baixo e terminando, no último ano, acima desse valor, perfazendo 400 milhões em dez anos.
O Benfica foi a primeira SAD a fechar um contrato deste tipo, mas depois de Porto e Sporting (este último também com a Nos) terem assinado os seus acordos, a SAD liderada por Luís Filipe Vieira vinha reclamando uma revisão dos seus termos, algo que já está feito.
In Jornal de Negócios

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