domingo, 29 de janeiro de 2017

CRÓNICA DE LEONOR PINHÃO


Pinto da Costa e os árbitros
Na noite de temporal da última quinta-feira, seguindo através da televisão a segunda meia-final (essa mesmo!) da Taça da Liga quando chegou o intervalo, pondo diligentemente de lado o bloco onde registara em gatafunhos muito pessoais os momentos mais vivos dos primeiros 45 minutos do jogo - o golo precoce de Salvio, a não - rendição do Moreirense e, sobretudo, uma quantidade de conclusões péssimas do ataque do Benfica -, voltei a pegar, por desfastio, no livro que Tostão publicou no ano passado, "Tempos vividos, sonhados e perdidos", e que estava ali à mão de semear. Tostão, isto para os mais novos, foi um jogador genial, um dos artífices daquela fabulosa seleção do Brasil que venceu o Mundial de 1970. Terminou muito cedo a carreira, formou-se em Medicina e dedicou-se ao ensino e à escrita. O dr. Eduardo Gonçalves de Andrade sempre fez e continua a fazer tudo bem feito, com bola e sem bola.
Folheando distraídamente, confesso, o tal livro de Tostão - os desplantes da equipa do Benfica na primeira parte de Faro impediam, por contágio, qualquer pessoa de se concentrar numa atividade tão nobre como a leitura -, fui parar à evocação de um Venezuela-Brasil de 1969, um jogo de qualificação para o Mundial do México, dando com esta maravilhosa historieta sobre João Saldanha, jornalista e selecionador do Brasil:"Contra a Venezuela em Caracas, no primeiro tempo perdemos uns dez gols. Irritado, Saldanha nos castigou, proibindo-nos de entrar no vestuário durante o intervalo. Voltámos e ganhámos o jogo por 5-0. Eu fiz trés gols e Pelé fez dois." Não se pode deixar de sorrir perante estas linhas mesmo quando se está a ganhar por 1-0 ao Moreirense com uma exibição lamentavelmente descontraída e, por isso mesmo, nada prometedora.
Deveria o treinador do Benfica fazer ao intervalo o mesmo aos seus jogadores que Saldanha fez às estrelas do "escrete" há quase meio século? Não, nem o nosso Rui Vitória é Saldanha para uma coisa destas nem os tempos são os mesmos...E, diligentemente, fechando o livro, trocando-o pelo bloco de notas, preparei-me para os segundos 45 minutos. Antes não tivesse fechado o livro.
O presidente do Porto veio esta semana a público recordar o processo Apito Dourado de que saiu ileso segundo a sua interpretação dos factos. No entanto, enquanto houver YOUTUBE será difícil que a sua opinião prevaleça sobre as demais. Ontem, hoje e, pior ainda, por toda a posteridade.

Leonor Pinhão, in record

Sem comentários:

Enviar um comentário